Eu tenho muitas dúvidas. A respeito de tudo. Houve um tempo em que eu me sentia desconfortável, e muito, por pertencer à raça humana: a pior espécie de animais produzida pela natureza. Depois, comecei a refletir que, apesar dos nossos instintos, frutos de hormônios e memórias ancestrais que habitam nosso corpo, temos algo além da animalidade: temos uma alma, que produz barbaridades como a guerra, a injustiça social, a ganância, a cobiça, a estupidez, mas que também engendra tantas coisas belas, como a música, a poesia, a literatura, a pintura, o cinema, a arquitetura... o idealismo, a amizade, o companheirismo, a fidelidade, o amor.
Eu continuo tendo muitas dúvidas. Ainda não entendo nada. Mas não sinto mais vergonha de ser humana.
Eu não perdi a perspectiva da finitude de tudo, inclusive de mim mesma e de todos os meus sentires, desejos, sonhos, perturbações. Sigo achando tudo muito inútil, sobretudo a dor e o sofrimento. Talvez eu esteja errada, todavia. Quem sabe cada pequeno progresso individual seja um avanço para a humanidade na Grande História que está sendo escrita por cada ser humano que vem ao mundo.
Uma vozinha de suspeita sopra-me ao ouvido direito que tudo é bobagem, perda de tempo. Então, mesmo sem entender nada, vou aproveitando os momentos de alegria gratuita que tem sido o meu quinhão. Talvez seja só isso mesmo. Mas já está muito bom.