Thursday, December 17, 2009

Au fil des saisons...












Chegou Natal, chegaram as festas de Ano Novo. Para fechar o ano na Embaixada, tivemos, no dia 15 de dezembro, Recital do pianista Eduardo Monteiro. Agora mesmo, escrevendo este post, estou ouvindo seus acordes.



Estou indo para Paris. Deixo com vocês imagens de Dublin, no verão e no inverno. Aproveite o período de festas para ser feliz ao lado dos seus queridos.

Tuesday, November 24, 2009

Voltando aos bons hábitos

O tempo está passando rápido demais e eu estou começando a ter a sensação de que se eu deixar correr solto, não vou aproveitar Dublin tanto quanto aproveitei Paris - ao menos, depois que comecei a ter amigos e amigas franceses.

Por isso, aqui estou eu, 8 horas da noite, esperando o curso de principiantes terminar par ter minha aula na classe dos intermediários.

E depois... milonga.

A coisa maravilhosa do tango é que você muda de país, muda de idioma, mas a linguagem é a mesma, o que lhe proporciona aquela benfazeja sensação de pertencimento, mesmo que você seja um absoluto desconhecido: eu faço parte desta comunidade. E brevemente, tenho certeza, terei pessoas ao meu redor para conversar, e não apenas sobre tango.

Pois, embora dançar seja uma delícia - uma das melhores terapias que eu conheço - o meu objetivo confesso é conhecer pessoas. Ter amigos. E, principalmente, amigas, já que Chéri é o meu melhor amigo. Mas uma amiga faz falta, e como!

Então, lá vou eu.

Sunday, November 15, 2009

Viver no Exterior

Viver no Exterior é um desafio. Oh, eu não estou falando de viver fora do Brasil. Estou falando de viver longe de seu país. Seja o Brasil para brasileiros, a França para franceses, a Jamaica para jamaicanos. Viver no Exterior. Aprender - a conviver e a respeitar - uma cultura diferente.

Engraçado que quando fui para a França, embora apenas arranhasse a língua, não senti muito desconforto. Os parisienses - ao contrário do que reza a lenda - foram super-simpáticos comigo. Tão logo observavam minha dificuldade com o idioma, prontificavam-se a falar comigo em inglês - para meu horror, que queria porque queria falar em francês.

A língua inglesa não é exatamente estranha para mim - como para uma parcela de brasileiros. Minha filha, que trabalha em uma butique de luxo em Paris, foi indagada se o inglês é a segunda língua oficial do Brasil, porque os brasileiros afortunados que vão comprar na tal butique se exprimem perfeitamente em inglês.

Mas, voltando ao núcleo duro do assunto, o que eu quero dizer é que viver fora de seu país de origem é uma oportunidade maravilhosa de conhecer outros modos de vida - que funcionam. É uma perda de tempo se instalar em outro país e não mergulhar nele. Tenho uma colega no Itamaraty que serviu na Turquia e aprendeu o idioma turco. Eu mesma, se um dia for mandada pra Israel, aprenderei iidich; e se for para o Magreb (sabe, aqueles países no Norte da África, Marrocos, Argélia, Tunísia), aprenderei árabe, embora não seja necessário, porque eles também se exprimem em francês e em inglês. Mas, pôxa, não vou perder essa oportunidade!

Bla-bla-bla à parte, quero dizer que passei meu domingo mergulhada na Irlanda. Cheguei hoje de manhã à página 590 do livro The Princes of Ireland, de Edward Rutherfurd (bacana, faltam só 186 páginas para terminar o épico, que, aliás, recomendo). Enquanto passava minha roupa (ah sim, empregada doméstica aqui não é fácil e barata como no Brasil) ouvia o audio-book De Profundis, de Oscar Wilde. E depois do almoço assisti o DVD In the name of the father. Agora, enquanto escrevo este post, estou ouvindo a trilha sonora do filme Once e bebericando guaraná misturado com whiskey Jameson.

"Que exagerada!",você dirá, talvez com razão. Mas o fato é que faria o mesmo se estivesse na China ou no Paquistão.

Curiosa, curiosa, curiosa.

Como minha nora, inglesa, que aprendeu português como língua optativa na faculdade, por causa do marido dela (o meu filho). Ou como meu genro, francês, que sonha em comprar um pied-à-terre no interior do Rio de Janeiro, por causa da mulher dele (a minha filha).

Mas, voltando - de novo - ao assunto principal: será que é assim tão difícil respeitar o modo de viver dos outros?

Eu acho que esse planeta está ficando pequeno demais para a minha aquariana curiosidade.

Monday, November 9, 2009

Dublin



Minha amiga Soraia comentou no Facebook que o filme Once fez ela achar que Dublin é uma cidade depressiva. Mais pas du tout!, ou melhor Not at all! Ao contrário, é uma cidade que pega fogo, no sentido que você bem entender.

Expliquei pra ela: "para vc ter uma idéia, 50% da população tem menos de 25 anos. Uma cidade muito animada. Chove e venta muito, é verdade, mas as meninas compensam usando roupas muito coloridas. Pintam o cabelo de azul ou de rosa, usam meias rosa choque, são extravagantes. Falam e riem alto. A população em geral é muito gentil com os estrangeiros. Como muitos brasileiros, que dizem "vai com Deus, fica com Deus", eles dizem "God bless you" ao se despedir. E são muito conversadores.

Saturday, October 24, 2009

Once


Estava procurando algum filme irlandês e achei Once. Assisti twice hoje.

Um crítico de cinema, não sei quem, disse que é filme para quem gosta de cinema e de (boa) música. Se não viu, pega na locadora, que o filme passou no Brasil há dois anos.

Se você pegar o filme, você vai ver um pouco de Dublin. A rua onde ele toca e ela vende flores é a Grafton Street, bem pertinho da Embaixada.

Eu acho que você vai gostar.

Monday, October 12, 2009

Deixa eu pensar um pouco

Eu tenho muitas dúvidas. A respeito de tudo. Houve um tempo em que eu me sentia desconfortável, e muito, por pertencer à raça humana: a pior espécie de animais produzida pela natureza. Depois, comecei a refletir que, apesar dos nossos instintos, frutos de hormônios e memórias ancestrais que habitam nosso corpo, temos algo além da animalidade: temos uma alma, que produz barbaridades como a guerra, a injustiça social, a ganância, a cobiça, a estupidez, mas que também engendra tantas coisas belas, como a música, a poesia, a literatura, a pintura, o cinema, a arquitetura... o idealismo, a amizade, o companheirismo, a fidelidade, o amor.

Eu continuo tendo muitas dúvidas. Ainda não entendo nada. Mas não sinto mais vergonha de ser humana.

Eu não perdi a perspectiva da finitude de tudo, inclusive de mim mesma e de todos os meus sentires, desejos, sonhos, perturbações. Sigo achando tudo muito inútil, sobretudo a dor e o sofrimento. Talvez eu esteja errada, todavia. Quem sabe cada pequeno progresso individual seja um avanço para a humanidade na Grande História que está sendo escrita por cada ser humano que vem ao mundo.

Uma vozinha de suspeita sopra-me ao ouvido direito que tudo é bobagem, perda de tempo. Então, mesmo sem entender nada, vou aproveitando os momentos de alegria gratuita que tem sido o meu quinhão. Talvez seja só isso mesmo. Mas já está muito bom.

Tuesday, October 6, 2009

Dia de cansaço




Segunda-feira é dia de cansaço. Fim de semana cheio de emoções, comme il faut, e eis que você chega um caco no escritório segunda-feira de manhã. Revisitando Paris, não deixei de lado a expectativa das informações sobre a escolha do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 (nem falta tanto assim, considerando que o planeta está girando cada vez mais rápido e o tempo, consequentemente, passa mais depressa) e sobre o referendo irlandês ao Tratado de Lisboa.


Foi bom, sim, rever amigos e a filhinha. E constatar que nostalgia não há. Paris é logo ali, e eu ainda tenho tantas coisas a descobrir... dos dois lados do canal da Mancha.


Mas por enquanto, me deixa sossegada, que eu preciso descansar das fadigas do descanso, como dizia meu pai.

Tuesday, September 29, 2009

Que venha o cinema brasileiro !


O tempo está passando tão rápido, e eu estou de tal maneira absorvida pelo meu trabalho, que temo que este blog não acabe se transformando numa prestação de contas do meu dia-a-dia na embaixada.

Vamos ver se você me aguenta.

Descobri o Jameson Dublin Internacional Film Festival, que acontecerá de 18 a 28 de fevereiro de 2010. Agora, não vou sossegar enquanto não colocar um filme brasileiro lá. Fui conversar com a gerente operacional do festival, em seguida liguei para a Ancine e, finalmente, para a Universal Films, que é a distribuidora internacional do filme que eu escolhi: À Deriva, de Heitor Dhalia.

Impossível de ter um filme brasileiro mais internacional, cujo elenco conta com o francês Vincent Cassel (como escapar ao meu destino?) e a americana Camilla Belle. Eu não vi o filme, mas me agrada uma estória brasileira "normal", ou seja, um filme de amor, ou de desamor, ou de traição, que fuja àquele estereótipo de favela/miséria/violência.

É claro que podemos fazer melhor. Quantas novelas lindas ambientadas no Nordeste já tivemos. Quantos cenários deslumbrantes, quanta gente bonita, quantas estórias originais a serem reveladas ao mundo.

Alguém me soprou o nome do filme Salve Geral, que é o candidato brasileiro na disputa por uma vaga no Oscar 2010. Só pra você ter uma idéia, um colega me disse que Cidade de Deus fez muito sucesso quando passou em Dublin, e teve várias sessões com lotação esgotada. Mas os amigos irlandeses dele disseram que depois de ver aquele filme nunca poriam os pés no Brasil.

Friday, September 25, 2009

Arranco de Varsóvia

Estou aqui às voltas com a programação a ser sugerida para o próximo ano e por isso passo horas na Internet, em busca de propostas originais nas áreas de música, cinema, literatura, pintura, fotografia... do Brasil. Prestei muita atenção ao alerta da Magui, de não me deixar resvalar no elitismo, pois ela tem toda a razão. E fui apresentada ao grupo de samba Arranco de Varsóvia, que amei, adorei. Acabei de mandar vários links do youtube para os colegas aqui da embaixada se regalarem no final de semana em casa, com som nas alturas, de preferência com uma cervejinha bem gelada (apesar de que o frio já está chegando feio).

Confere lá se não é de arrepiar.

Tuesday, September 22, 2009

How do I dare?

It was love at first sight. The great black iron gate looked magnificent. When we stepped in, it opened silently and softly. In the inner garden it was possible to see two fountains, with its white Greek-like statues. And the water in a sweet musical flow put us in an anesthetic state of spirit.

The building, very elegant, was in red brick. Imposing, as some of the most marvelous buildings in the city.

I told him: this is the one. I love it. I want to live here.

That is how I found my new residence in Dublin, in my very first day in town. And I do not regret. I am still impressed, each day I arrive at home, 40 days passed.

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Tendo passado cinco anos em Paris, falando, dançando, amando e até brigando em francês, eu achei que meu inglês estava muito ruim. A colega na Embaixada disse que o prazo médio para soltar a língua é um mês.

É verdade que já melhorei bastante, estou até tendo aulas de direção - para aprender a dirigir do lado direito, que o volante aqui é ao contrário... da gente, lógico.

Mas, perfeccionista - e impaciente - como sou, inscrevi-me no curso Creative writing.

Que petulância! How do I dare escrever em inglês?

Ah, cara-de-pau é pra isso mesmo. Hoje foi o primeiro dia de aula e os parágrafos acima são o resultado do exercício proposto pela professora: descrever um lugar em dez minutos.

Os bambas em inglês sintam-se à vontade para corrigir as aberrações.

Friday, September 18, 2009

Criando asas


No último sábado o navio-escola da Marinha brasileira aportou em Cork, no Sul da Irlanda. Um acontecimento de política bilateral, que contou com a presença do embaixador do Brasil e do prefeito da cidade numa recepção oferecida pelo comandante do navio.

Eu não planejava ir. Minha casa ainda precisava de uns últimos retoques... e era fim de semana. Mas a minha chefe, sexta feira à tarde, me pergunta se eu estava indo para Cork. Diante da minha resposta negativa, ela me olhou com uma ponta de decepção e disse: "vai sim, vai ser legal. A menos que você tenha algo muito importante para fazer em Dublin neste fim de semana, aí a gente entende..."

Pra quem sabe ler pingo é letra, não é mesmo? Imediatamente entendi que ela não entenderia se eu não fosse... e como eu não quero que haja maus entendidos, corri na internet para comprar bilhete de trem e reservar hotel.

E no sábado de manhã, lá fui eu, vestido de festa dentro da mala, maquiagem, perfume francês, salto altíssimo.

Na viagem de três horas, avancei a leitura do meu primeiro romance irlandês, The Secret Scripture, de Sebastian Barry. Pelo subtítulo que coloquei neste novo blog já dá para notar que me encantei com o autor. Vencedor do Prêmio de Literatura Costa de 2008, o livro foi assim aclamado pelo Irish Times: "This is a great book by, arguably, our greatest living novelist".

É... minha aventura literária e turística na Irlanda está apenas começando.

Friday, September 11, 2009

Muito trabalho, mas muito feliz

Fui nomeada encarregada do Setor Cultural da Embaixada. Uma coisa que eu sei e gosto de fazer. Minha primeira missão foi organizar o concerto musical, que já estava agendado, do violonista Rogério Dentello. O concerto aconteceu ontem, 10 de setembro de 2009, um mês exato depois da minha chegada a Dublin, na sala mais bonita da cidade, a National Gallery of Ireland.

Bom, para dizer a verdade, ainda não tive oportunidade de fazer turismo para saber se existem outros espaços mais bonitos, mas este, que foi o primeiro que conheci, me encantou. A sala de concerto tem uma acústica perfeita e no segundo andar, onde foi servido o cocktail, as paredes são cobertas por pinturas dos maiores gênios da arte européia. Precisarei os nomes dos artistas quando voltar, como turista.

Eu quero apenas dizer que estou muito feliz com meu trabalho, com minha chefia, com meus colegas, com o meu apartamento, enfim, com a minha nova vida na Irlanda, país que tem tudo a revelar para mim.

Tuesday, August 25, 2009

Como uma Fênix

Eis-me renascendo das cinzas. Se morte houve, mereceu um longo ritual de enterro e luto. O renascimento porém era previsto e mesmo ansiosamente esperado. Tão ansiosamente, que a decepção perigava ganhar terreno.

Mas a razão estava com o otimismo, que tem dado provas de fidelidade.

Assim é que hoje, 15 dias após minha chegada à capital da Irlanda, estou instalada no meu escritório e no meu apartamento. Um recorde mundial nas remoções do Itamaraty.

Foi assim: ainda em Paris, consultava o site de locações imobiliárias de Dublin, via fotos, fazia contatos. Mas, embora as pessoas digam que a crise derrubou o mercado imobiliário no país, o fato é que as transações são feitas com muita rapidez. Então, não adiantava telefonar ou escrever antes da chegada.

Na véspera, portanto, escrevi para um agente imobiliário para marcar visita. Que foi feita no mesmo dia. E foi le coup de foudre. Apaixonei. Mas Chéri disse, com razão, que não era sensato pegar o primeiro e, assim, marcamos para visitar mais três imóveis no dia seguinte. Apenas para confirmar o que meu coração já dizia desde a véspera: eu tinha encontrado a minha moradia irlandesa.

A segunda visita já foi para decidir a disposição dos móveis, os termos do contrato, formalidades.
No desencaixotar (neologismo!) das tralhas, encontrei o texto abaixo, que eu mesma escrevi há oito anos, em julho de 2001.

Salmo de agradecimento

Agradeço pelo meu corpo, abrigo da minha alma, saudável e tratado.
Agradeço o emprego, que me garante a sobrevivência. Agradeço por meu trabalho não ser penoso.
Agradeço o apartamento em que moro, as compras na despensa e na geladeira, as roupas no guarda-roupa.
Agradeço a saúde e a integridade física dos meus filhos.
Agradeço a oportunidade que tive de proporcionar os estudos deles.
Agradeço pela igreja que frequento aos domingos, e pelos sermões que me alimentam a alma durante toda a semana.
Agradeço o clube de que sou sócia.
Agradeço por amigas como a Valentina, a Ester, a Vera, a Aline, a Lídia.
Agradeço por ter a Bíblia para ler e, assim acalmar o meu coração, sempre inclinado à inquietação. Agradeço porque a leitura deste livro tem me proporcionado paz e esperança. Tenho vivido da certeza das promessas ali contidas. Agradeço a certeza plantada no meu coração de que sou filha de Deus e, por isso, alvo de misericórdia e herdeira das bênçãos prometidas no passado, mas bem válidas para mim hoje em dia.
Agradeço a proteção que tenho tido de todas as hostilidades que periodicamente me ameaçam.
Agradeço porque a minha vida vai continuar depois da passagem, e de uma maneira muito melhor do que a de agora.
Agradeço porque a solidão da minha alma não vai durar para sempre.
Agradeço porque a desilusão e as incertezas que grassam no mundo não habitam meu coração.
Agradeço a tranquilidade de saber que o mesmo cuidado dispensado a mim se estende aos meus filhos e ao futuro deles. Sei que há caminhos de vida e de paz traçados para a minha descendência.
Agradeço por saber que não sou indispensável, que posso morrer agora e que a vida vai seguir normalmente no rumo planejado por Deus. Agradeço porque mesmo as coisas que parecem trágicas tem um fim proveitoso aos seus propósitos, qual seja, o aperfeiçoamento das nossas almas.
Agradeço, meu Deus, por fim, por teres confinado minha mente na ignorância. Agradeço por não compreender o milagre do nascimento, o propósito da vida, o mistério da morte. Agradeço porque é essa ignorância que me mantém submissa a ti e à tua soberania.
Agradeço por não ser responsável por mim mesma, por depender inteiramente de ti.